De Império a Grande Potência Econômica, como ?

                             Introdução à história chinesa

            Para conseguirmos explicar de maneira completa e ampla sobre o que foi a Revolução Chinesa é necessário voltarmos bastante no tempo e contextualizar os fatos que culminaram na transformação política, econômica e social a partir de 1946. Então vamos voltar até o Império Chinês, que tem o seu final somente em 1911.
   

 Os diversos conflitos e a vitória do Imperialismo britânico:

                 A tradição chinesa, por pregar a superioridade em comparação a outras nações,sempre dificultou o comércio com estas.Nos séculos XV e XVI, a dinastia então no poder,os Ming, isolaram a China do resto do mundo.O império subsequente, dos Manchu, tentou fazer o mesmo, mas isso não foi viável.Por isso, mesmo as relações que ocorriam eram cheias de restrições e certo orgulho.Para se ter uma ideia, os chineses cobravam de outros povos asiáticos impostos para o seu imperador,e na relação com europeus,durante muito tempo, o único local de abertura para comércio com outras nações foi Canton, hoje denominada Ghuanzou.Lá, estabeleceu-se a venda de chá e seda, e, por muito tempo, foi difícil para  os homens do Velho Continente ter produtos que atraíssem aos chineses.

A imagem retrata o imperialismo inglês, do qual a china foi uma das vítimas.

                Tal situação começou a mudar já no século XIX, com o imperialismo britânico.Os ingleses encontraram no ópio, droga encontrada na china, um produto de interesse chinês.Assim, mesmo com a proibição do governo, o comércio do ópio, graças ao forte interesse e a propinas dadas a oficiais, se alastrou pela China, gerando problemas econômicos e sociais.Os econômicos por conta dos gastos com o ópio, que geraram problemas a estrutura de um país que se acostumara a certo protecionismo no consumo, ou seja, sem o hábito de importar. Sociais pelos milhões de viciados no narcótico em questão.

               Por isso, ocorreu de 1839 a 1842 a primeira Guerra do Ópio, da qual os britânicos saíram vencedores, impondo após o conflito a abertura de 5 portos ingleses em terras chinesas, o pagamento de indenização e a posse da ilha de Hong Kong por cem anos.

                Anos depois, o domínio imperialista naquele local ainda aumentou: em 1856, um navio inglês é revistado por oficiais da China, o que desagradou os ingleses, que, motivados também pela política intransigente do imperador chinês quanto ao caso e auxiliados pela França, declararam guerra. Esta terminou em 1860, com mais uma derrota dos orientais e mais exigências da parte dos vencedores: a China foi obrigada a abrir-se mais ainda politicamente, com aceitação de cristãos missionários, de estrangeiros, incluindo diplomatas, e legalização do ópio, que fez ainda mais vítimas.

Até o fim do século XIX, a China acumulou mais insucessos, como derrotas em guerras locais e contra europeus, e viu-se totalmente dominada por estrangeiros. Nesse contexto, um movimento nacionalista surge: o dos boxers. Revoltados com o poder que outras nações tinham sobre a sua e com a situação paupérrima em que sua sociedade estava mergulhada, estes lutadores se organizaram e começaram a atacar símbolos dessa colonização: ferrovias, militares, missionários protestantes e até chineses convertidos ao cristianismo. O grande estopim foi o assassinato do embaixador alemão.Com tal fato, estava declarada guerra aos imperialistas europeus.

Nesse conflito, milhares de chineses cristãos foram mortos, além de centenas de estrangeiros e alguns boxers. Então, os países imperialistas formaram um exército multinacional para conter o ímpeto dos amotinados, e foi bem sucedido no seu objetivo. No ano seguinte, a revolta já havia terminado, e as organizações de grupos como os boxers proibida. Além dessas, a China recebeu outras severas punições no pós-guerra, entre as quais mais concessões territoriais, multa alta, a obrigação de julgar e matar os envolvidos no motim e, talvez a mais simbólica, a cessão da Cidade Proibida, tradicional morada dos imperadores chineses, para que se tornasse quartel de estrangeiros. Como consequência, o sentimento de repúdio do povo chinês aos estrangeiros, de uma maneira geral, aumentou, sendo importante motivador da revolução de 1911.

   Fim do império com a Revolução de 1911 e o início da Guerra Civil Chinesa:

Su Yat Sen, criador do KMT e proclamador da república chinesa.

               Anos depois, já em 1911, impulsionado por esse sentimento nacionalista, por um desejo republicano,por não admitir o governo da minoria- os manchus- sobre a maioria han e pela vergonhosa corrupção do Estado, o Kuomitang (KMT), partido nacionalista chinês, começou a agir na China. Criado por Su Yat-Sen anos antes, o KMT começou a se rebelar contra o governo, em movimentos que começaram no sul do país e que depuseram sem a morte do mesmo o imperador e, com ele, sua dinastia. Embora quisessem modificar influência externa no governo e o próprio, os nacionalistas não buscaram ser conflituosos junto aos estrangeiros, pedindo-lhes que não se opusessem às mudanças propostas, pedido que foi acatado.
          
      

Chiang Kai-Sheik, líder do KKT durante toda a guerra.

            
            Depois da deposição, a China passou por momentos de grande instabilidade política, iniciada por Shikai, que deveria ser o primeiro presidente mas, autoritariamente, nomeou-se imperador e centralizou o poder até o ano de sua morte:1916.Após esta, a luta por poder político rivalizou os que já participavam do governo e os membros do KMT, que depois viriam a ser apoiados também por comunistas.Nos anos subsequentes,com os kuomitang no poder, ocorre a morte de Su Yat Sen, fundador do KMT em 1925, seu sucessor, Chiang Kai-Shek, adota um posicionamento mais próximo dos países ocidentais, visando manter sua segurança para manter-se no poder. Contudo,ele não conseguiu ter a importância desejada pelas potências estrangeiras nem pelos chefes militares, criando assim, uma situação suscetível para a criação de outra forma de poder.

     

             E é isso que acontece.O Partido Comunista Chinês,criado em 1921 e, por motivos óbvios de divergência de ideologias, inimigo do Kuomitang,embora tenha mantido temporariamente uma aliança com o KMT por terem adversários comuns, começa a rivalizar com os nacionalistas em 1927.Neste mesmo ano,o Generalíssimo Chiang resolve expandir seu poder ao norte, chegando perto de cidades importantes como Pequim e Cantão, iniciando assim uma disputa com os comunistas sobre o domínio dessas cidades e assim, quebra-se o acordo e  inicia-se a disputa que leva a Guerra Civil Chinesa.

 Guerra Civil Chinesa: 

Mapa que mostra a travessia da Grande Marcha.

            Kuomitang realizou um massacre aos comunistas, conhecido como Massacre de Xangai, em 12 de abril de 1927, em que milhares de comunistas foram mortos, o que foi o suficiente para instigar a rivalidade dos dois partidos e ser o estopim para o início da Guerra Civil Chinesa. A partir deste fato, centenas de batalhas foram travadas e, até 1930, o PCCh faz diversas tentativas de tomar as terras, mas sem sucesso algum,perdendo muitos seguidores.Todavia,em 1931, Mao Tse Tung assume o comando do partido comunista e começa a fazer táticas de guerrilha como forma de luta. Em outubro de 1934, Mao Tse marcha com suas tropas para fugir dos ataques de Kuomitang por 10 mil quilômetros até chegarem ao Noroeste da China, um lugar praticamente inacessível para os inimigos, sendo então conhecida como a Grande Marcha ou Longa Marcha.

     

         Apesar do cenário conflituoso,este teve que ser interrompido por forças maiores.Entre 1937 e 1945, ocorre a Guerra Sino-Japonesa e, apesar de Chiang ser contra, é obrigado a dar trégua aos combates com o Partido Comunista Chinês.Juntos, uniram forças para derrotar o Japão, que queria invadir suas terras, mas os generais de Kuomitang se tornaram extremamente corruptos e a liderança das batalhas se tornou responsabilidade quase exclusiva de Mao Tse Tung, o que lhe concedeu muito prestígio.Tal admiração aumentou ainda mais quando, auxiliada pelas bombas americanas detonadas no Japão, a China obteve vitória no combate. Com o repentino fim da Segunda Guerra, retorna a competição entre os Kuomitang e o Partido Comunista Chinês, incluindo a disputa pelas terras deixadas pelos japoneses.A essa etapa final da Guerra Civil dá-se o nome de  Revolução Comunista Chinesa.

Revolução Comunista Chinesa:

Mao-Tse Tung proclamando a República Popular da China, em 1949.

          No começo da Guerra Fria, em torno de 1946, a União Soviética apoia os comunistas com uma ajuda limitada enquanto os EUA apoiam os nacionalistas investindo centenas de milhões de dólares em armas, munições e suprimentos. Porém, a moral do Partido Nacionalista Chinês com a população estava muito baixa devido à corrupção, às altíssimas taxas de inflação e ao caos econômico.Por isso,mesmo com a tentativa de melhoria interna para ter a satisfação do seu povo, era tarde demais para o Kuomitang, que perdiam em número de seguidores e apoio popular, ao contrário do Partido Comunista. Em 1948, Mao Tse Tung possuía em torno de 900 mil guerrilheiros e, com suas táticas de guerrilha, conseguiram diversas conquistas. As suas táticas de guerrilhas se baseavam em quatro regras: Atacar primeiros as forças do inimigo dispersas e só depois atacar as mais concentradas e consequentemente fortes, tomar primeiro as cidades pequenas e médias e só depois as grandes, aniquilar qualquer inimigo e não ter a intenção de manter ou sustentar uma cidade e, por último, quando estiver em batalha, tentar reunir um número superior de soldados em relação ao inimigos, afim de cercá-los. Essas medidas organizadas e eficazes garantiram a vitória do Partido Comunista da China, principalmente quando conquistam a terra de Nanquim, em 1949. Em outubro do mesmo ano, os comunistas proclamaram a República Popular da China. Chiang, o restante dos guerrilheiros e os simpatizantes do nacionalismo se refugiaram em Taiwan e proclamaram a República da China, proclamando em Dezembro que Taipei era a capital provisória, afirmando ser o único poder legítimo.Os conflitos continuam por décadas, pois Taiwan recebe apoio dos EUA para que seja seu aliado na Ásia, mas a República da China nunca conseguiu um poder intenso o suficiente para voltar a dominar o país. Porém, na década de 90, Taiwan conquista a democratização e, assim, as batalhas cessaram, posto que o clima continuasse muito frágil entre os dois países até os dias atuais e que  China o reconhece como uma província rebelde.

     

          A Revolução Comunista Chinesa não é  importante somente por ser a etapa final da disputa entre as duas ideologias, mas também por Mao Tse Tung ter tomado uma série de medidas que melhoraram, e muito, a vida dos chineses, que, após todas essas batalhas, viviam miseravelmente, pois nas cidades havia fome e, nos campos, não havia sementes para o plantio.Primeiramente, ele implantou a Reforma Agrária, confiscando e dividindo extensas áreas de terras entre os camponeses e fez mudanças drásticas na economia e na cultura chinesa, além de abolir a prática do casamento, promover a igualdade da mulher na sociedade, criar um grande movimento a favor da educação popular, alfabetizando milhares de adultos, e outras medidas, que criaram um enorme e positivo impacto na sociedade, que agora possuía melhor alimentação, acesso a empregos, direitos iguais e educação. Em 1953, Mao Tse estatizou bancos, empresas e seguia o modelo soviético com apoio total à indústria pesada.Ganhou também o apoio da URSS, que enviava trabalhadores capacitados, dinheiro e tecnologia, o que foi muito importante para o progresso chinês.                    Depois da Revolução, entre os anos de 1958 e 1962, Mao Tse criou um plano ambicioso com a intenção de tornar a China um país desenvolvido em apenas 10 anos.Chamado Grande Salto pra Frente,baseava-se na organização de grandes comunas rurais, que eram uma espécie de fazendas coletivas, onde morariam com uma autonomia considerável milhares de famílias camponesas, como se fossem pequenas cidades, que possuiriam seus próprios recursos, como escolas, indústrias e hospitais. Porém, a medida foi um total fracasso, já que o país não tinha como investir em todos esses recursos.Além disso, várias enchentes destruíram as plantações, levando a China a uma situação crítica de fome e de insatisfação do povo. Em 1966, iniciou-se uma revolução cultural, criada pelo próprio Mao Tse Tung para mobilizar a população culta e formadora de opinião a seu favor, mas os jovens, insatisfeitos com o ditadura de Mao Tse, protestavam e denominavam-se jovem guarda vermelha.Eles foram repreendidos com a força bruta, locais de cultos religiosos foram destruídos, livros foram confiscados e as comunas conseguiram maior importância, tornando o ditador ainda mais forte.  Falecendo em 1976, assume o poder o moderado Deng Xão-Ping, que permitiu a entrada de tecnologia e capital estrangeiro, começando a aplicar mudanças cujas consequências vê-se hoje.

        Vendo o panorama dos últimos 500 anos da China, é interessante ressaltar que tal país não tem tradição de facilidade nas relações internacionais.Se até o século XIX as relações com estrangeiros eram limitadas, estas, quando mais abertas, durante o imperialismo, trouxeram conflitos entre tradição, expressa no nacionalismo, e abertura, expressa na influência, político-economica de europeus.Compreendo-se isso, entende-se um pouco melhor o paradigma da China atual: com influência do pensamento comunista e do capitalismo inglês, tornou-se uma economia paradoxal e uma sociedade rica, produtiva mas socialmente doente.

Fontes:  

            http://noticias.terra.com.br/educacao/historia/a-republica-chinesa-de-1911-o-fim-da-dinastia-manchu-dos-qing2008d2c5286da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html

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http://www.infoescola.com/historia/guerra-do-opio/

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_Rep%C3%BAblica_da_China_(1912%E2%80%941949)

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http://www.brasilescola.com/china/revolucao-republicana-1911.htm

http://www.infoescola.com/historia/guerra-civil-chinesa/

http://www.coladaweb.com/historia/revolucao-chinesa http://www.infoescola.com/historia/revolucao-chinesa/